domingo, 3 de abril de 2011

Capitulo 2

Panelas lustradas, chão varrido. A noite já não era mais uma criança para Tosco. Precisava dormir para enfrentar o próximo dia de serviço mas, mesmo assim, não estava com sono. Deu a volta pela porta exterior da cozinha e acendeu uma tocha tímida. Não havia viva alma lá fora, apenas um gato que o olhava desconfiado - Tosco divertiu-se com a idéia do gato ser mais um espião do rei. Fez sinal de silêncio, colocando o indicador sobre os lábios - e o gato olhou de lado, com a expressão de desdém característica dos bichanos.
Com um meio sorriso, o príncipe encolheu-se junto a parede de pedra e seguiu até o jardim, onde havia um labirinto feito com cercas vivas. Passou rapidamente por ele. Todos os caminhos levavam até uma pequena fonte em forma de cabeça de leão, fixada em uma sólida parede de pedras. Era o fim da estrada; Tosco apagou sua tocha na água e observou por alguns minutos se alguém o seguira, mas apenas o som dos animais noturnos enchia o ar.
Satisfeito com a constatação, ele subiu na borda da pequena piscina onde a água era despejada e tateou em volta da cabeça do leão. Lá estava a alavanca que procurava. Foi apenas apertar, e a cabeça parou de cuspir água e se moveu ligeiramente para fora. Olhou rapidamente para os lados, enquanto a água da piscina escoava pelo ralo, deixando uma superfície cheia de limbo em seu lugar.
Agora totalmente dentro da piscina, Tosco juntou todas suas forças para rodar a grande cabeça de leão. As engrenagens daquela coisa já não recebiam manutenção havia algum tempo, mas ele não queria que seu único refugio fosse descoberto tão cedo. Uma, duas, três voltas - a piscina já não era a mesma. Em seu lugar, estava uma escada em caracol, que levava para um nível inferior. Tosco desceu rapidamente e, ao girar uma segunda cabeça lá embaixo, a escada voltou a ser piso da piscina, e ele pode ouvir o som da cair em algum lugar sobre sua cabeça.
Tudo agora era escuro e molhado, enquanto o príncipe tateava o longo corredor que se estendia a sua frente. Sua mão bateu em algo: era a lanterna que procurava. Acendeu um palito de fósforo e, posteriormente, a lanterna. Geralmente, quando conseguia trazer uma vela acesa, tudo era mais fácil. Carregar palitos de fósforo era realmente perigoso - era comum um deles pegar fogo sozinho e incendiar tudo que estava a sua volta. Tosco lembrava-se muito bem que um deles tinha feito isso no bolso do seu casaco certa vez - e ele teve de voltar para a cozinha tremendo de frio, o que era melhor do que ser apanhado pegando palito de fósforo escondido, de qualquer maneira.
Seguiu pelo corredor até uma estreita porta de madeira, onde reluziam três fechaduras idênticas. Cada uma delas era redonda, com vários desenhos pequeninos em suas bordas. Tosco sempre se lembrava da primeira vez que estivera ali com seu pai, e de como ele o havia ensinado a combinação de desenhos para que a porta se abrisse.
- De água e sol precisam as flores.
Alinhou para a primeira fechadura a gota de água, para a segunda um sol pequenino sorridente, e para a terceira uma figura com cinco pétalas idênticas. Pronto! A porta rangeu abrindo para dentro, enquanto revelava um pequeno cômodo abarrotado de coisas. Estantes repletas de livros cobriam pelo menos duas paredes. Na outra, mapas amarelados competiam espaços com objetos estranhos, mas ao mesmo tempo tão valiosos para Tosco: era seu legado de família. Apenas sua familia e algumas pessoas extremamente intimas haviam entrado naquela saleta. Sem falar que era um ótimo lugar para se esconder - e também para fugir: havia mais uma porta ali, que levava a um corredor e a uma passagem ao mausoléu da familia. Quem iria procurar uma passagem em um túmulo? Mas nem morto! O príncipe riu ao lembrar do pai fazer piada daquilo. Era ali que tinham tido suas ultimas conversas; era ali que guardava tudo o que trazia alguma lembrança feliz da sua vida; e era ali que agora podia ter um pouco de paz. Pousou a lanterna sobre a mesa, e a luz refletiu num objeto de tamanho médio que estava ao seu lado. A superfície lisa e prata do objeto fez a luz multiplicar-se por todo o cômodo, e ao mesmo tempo chamava a atenção de qualquer um que pudesse estar por perto. Era o Ovo de Eriskalt.
O Ovo tinha aproximadamente o tamanho de um melão, e tinha a superfície prata mais lisa e polida que Tosco já havia visto. Exceto por algumas minúsculas veias pretas recobrindo toda a casca, aquilo parecia um espelho. Alguém tinha feito uma base de prata, e o protegido por algumas grades crivadas de jóias. Aquilo sim, era precioso. O príncipe pegou em sua mão o Ovo, e a luz tremeluziu pelo ambiente. Mesmo com aquele gradeado, qualquer um poderia se barbear olhando para ele.
Tosco lembrou-se do pai. Foi como se ele estivesse mais uma vez sentado do outro lado da mesa, enquanto conversavam.
"-Está vendo, meu filho? Isso aqui foi dado de presente para seu tataravô, pelos homens que conseguiram voltar das terras além-mar. Mas lógico que não tinha essas grades, elas foram colocadas depois.
- Quem as colocou? O vovô?
- Sim, seu tataravô tinha medo que quebrasse. Sabe, ele é oco. Escute - O homem bateu delicadamente no ovo, e Tosco pode ouvir aquele som de vazio que o deixou espantado.
- É um ovo de verdade!
- Sim! - Seu pai soltou uma gargalhada gostosa.- Agora imagine o tamanho do bicho que o botou..."
A imaginação de Tosco até hoje não tinha conseguido imaginar o que seria capaz de botar aquilo. A imagem do pai do outro lado da mesa tinha se esvaído e, mais uma vez, ele estava sozinho olhando para o Ovo. Já havia perguntado uma vez ao seu professor, Péricles, o que era um Eriskalt.
"- Um o quê?
- Um Eriskalt, professor.
- Não seria Eiskalt, que você está tentando pronunciar? Eiskalt, de... gelado?
- Não professor. Eriskalt de bicho, não Eiskalt de frio..."
Demorou para que o professor entendesse o que ele queria dizer. Bom, mas se algo chamava Ovo de Eriskalt, isso só poderia ser o bicho que o botou, certo?
" - Talvez - dissera o professor - mas Eriskalt pode ser nome de um lugar de onde esse objeto veio, ou talvez de quem o encontrou, ou o fabricou."
Tosco não havia contado a ninguém mais sobre o ovo. O professor era seu único amigo, e ele sentia sua falta. Desde que Tires havia tomado o trono, o seu mentor havia sido acusado de republicano e, a partir daí, sido dispensado do serviço. O novo rei foi até bonzinho; muitos outros republicanos já haviam sido presos e deportados para as ilhas além das 5 cidades costeiras do reino e, de lá, quase nunca alguém voltava. Geralmente, quando alguém tentava fugir, era pego pelas tormentas - enormes redemoinhos que criavam uma fronteira entre as águas conhecidas e as terras além-mar - e, aí sim, ninguém escapava mesmo. Só os antigos sabiam como passar por eles, e já estavam todos bem mortos e enterrados.
Tosco olhou de novo para o Ovo, seu legado de familia, seu tesouro mais valioso depois de sua própria vida. Havia uma pequena fechadura na base, que poderia abrir as grades e libertá-lo de sua pequena prisão. Mas a quanto tempo atrás havia sido botado? O príncipe olhou mais uma vez para as grades, pensando que, sem elas, provavelmente o ovo estaria reduzido a uma poça de gosma malcheirosa com cascas quebradas no chão. É, pra sair da cloaca de algum bicho um ovo desse tamanho, a criatura deveria ser bem grande. Apoiou-se na mesa com o objeto prateado a sua frente e ficou devaneando por dez, quinze, vinte minutos... até que o sono e o cansaço o levaram para bem longe dali.

domingo, 6 de março de 2011

Capítulo 1

-Se teu avô te visse agora, certamente morreria. - caçoou a cozinheira gorda, de dentes amarelos. Ela era enorme, com banhas para todo o lado; mas mesmo assim, usava um decote ousado e tentava fazer pose. Seu cabelo preto ensebado saia de baixo do lenço da sua cabeça em grandes punhados. Tosco não sabia porquê ela usava aquele lenço então, uma vez que não servia para prender cabelo nenhum.
- Meu avô já morreu, Susana. Não precisa ficar me lembrando.
- Então pare de choramingar, pequeno principe, e leve logo essa bandeja para o salão!
Tosco resmungou qualquer coisa para ela - nem ele mesmo entendeu - e rumou para o salão de jantar equilibrando uma bandeja que continha uma jarra pesada de vinho e uma taça de ouro. Realmente, ela tinha razão. O que seu avô, o grande rei Dimas, faria ao ver seu neto servindo de copeiro para um homem que agora posava de rei, mas que não tinha um pingo de sangue real nas veias? Era ultrajante. Aquele homem tinha deixado seu pai morrer na prisão, mandado sua mãe para o convento e sua irmã sabe-se lá para onde - e, a ele, tinha guardado o melhor: a servidão. Viver como um simples copeiro onde em outros tempos poderia ter sido a cabeça...mas agora era a cauda. Seria melhor a morte, se o desejo de vingança não o deixasse descansar. Mas Tires era esperto...Tosco não sabia até onde, mas assim que chegasse a idade adulta - 18 anos - e tivesse direito de ser ouvido, ele receberia o que merecia. Mas, por enquanto, o rei esperava a taça de vinho.
- Aí está o nosso real copeiro! Achei que ainda estava amassando as uvas!
Tires riu gostoso. Os demais lordes da grande mesa de jantar do salão acompanharam a risada. Tosco percebeu que apenas riam para agradá-lo - o medo estava estampado em seus olhos. Ninguém estava disposto a trocar de lugar com ele.Tosco era o exemplo. Se o proprio principe servia a sua taça, qual seria o lorde que arriscaria enfrentá-lo? Ninguém. Tires estava num posto totalmente acima de qualquer um que tivesse sangue azul naquele cômodo.
Tosco o serviu rapidamente. O rei olhou para dentro da taça desconfiado.
- Espera que eu beba tão rápido assim?
Tosco sabia que era uma maneira de não arriscar ser envenenado por um herdeiro legitimo ao assento que ocupava tão elegantemente. O copeiro deu um gole rápido. O monarca suspirou e, depois de limpar com um guardanapo a borda da taça, a ergueu num saúde! e a entornou. Olhou para Tosco com uma sombrancelha erguida, o sinal de que ele já não era mais bem-vindo alí.
O principe fez uma mesura e voltou para a cozinha com a bandeja debaixo do braço. Tinha uma cozinha para limpar. O que mais aquele idiota iria mandar ele fazer? Qual seria a próxima ilustre humilhação que iria ter que passar, pra que aqueles lordes covardes tomassem a iniciativa de fazer qualquer coisa? Suspirou e jogou-se numa cadeira próxima. A cozinheira dizia alguma coisa sobre as panelas, e Tosco levantou-se sem ânimo algum para ir até uma grande tina com panelas sujas. Suspirou mais uma vez.
- Se teu avô te visse agora, certamente morreria.
Era a cozinheira mais uma vez. Mas, agora, a afirmação soou com tristeza. Tosco não sabia se era ela quem estava triste, ou era ele. Tentou segurar o choro, mas uma lágrima teimosa desceu por seu rosto. Enxugou-a com o ombro, torcendo para que ninguém tivesse visto. Já era velho demais para chorar. Mas no próximo ano, quando tivesse idade suficiente, não choraria nunca mais.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Olá, pessoal!
Definitivamente, depois de terminar de ler os livros de Christopher Paolini... cheguei a conclusão que ele está demorando demais com esse quarto livro! Ave! Brisingr saiu em 2008...três anos depois e, cadê? Ele precisa é de fazer um curso intensivo com a autora do Harry Potter, pra ver se essa produção sai mais rápido! Duvido que ele faça outra coisa além de escrever e, mesmo assim, ele consegue demorar para escrever sobre um mundo que ele mesmo inventou!
Por isso, devido à revolta proveniente da falta de paciência para esperar o 4º livro, resolvi escrever a minha parte da história - algo sobre os humanos além-mar, os parentes do rei Palancar que ficaram para trás, e conseguiram se livrar dos Ra'zac que os assolavam. Não sou escritora profissional, por isso gostaria de pedir ajuda, aceitando opiniões que nos façam desenrolar um enredo legal e nos distraia enquando o bendito do livro do Paolini não sai. Não quero tomar o lugar dele, mas será como comer uma fruta para tapear a fome antes do jantar ficar pronto. Que tal? Posso contar com vocês?
Pensei em focar no personagem Tosco - um cara com grandes chances de ocupar o trono de um reino do continente a oeste de Alaguesia (mas ele não sabe da proximidade, é lógico) - mas para isso tem que tirar o ocupante original, seu tio, que assassinou seu avô, deu um jeito nos seus pais e agora o usa como copeiro (uma maneira de ofendê-lo na frente de toda a corte). Também pensei que um golpe pode não dar certo - e ele pode fugir sozinho ou acompanhado, levando uma relíquia da família, a pedra de Eriskalt - um presente dos viajantes maritimos do Além-mar (que nós conhecemos como Alaguesia, mas ele não sabe o nome). Vocês já viram aqueles ovos europeus de ouro, crivados de pedras preciosas? Pensei que seria algo parecido, mas com uma fechadura. Quando Tosco abre, descobre a verdade sobre a grande pedra polida prata com risquinhos pretos que recebeu de herança. Tchans! Ele não será o reprise do garoto Eragon, mas como segue a mesma linha, pensei em um novo cavaleiro de dragão, livre daquele negocio do Galbatorix e pronto para inventar novas aventuras...vou tentar começar.
Christopher, sou sua fã, e não quero roubar seus direitos autorais. Não quero nem vou ganhar dinheiro com sua imaginação, mas preciso deixar a minha voar. Se achar que estou usando suas idéias demais, é só entrar em contato: dkarina10r@terra.com.br. Estou aberta a idéias e criticas.
Atenciosamente,
Karina